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quarta-feira, 13 de maio de 2009

Brincadeiras e jogos tradicionais de outros tempos

Mneme – Revista Virtual de Humanidades, n. 11, v. 5, jul./set.2004
Dossiê Gênero
ISSN 1518-3394
Disponível em http://www.seol.com.br/mneme
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Brincadeiras e jogos tradicionais de outros tempos
Angélica Conceiçãoi
Licenciada em Antropologia
Visão Cultural, Lda. – Investigação e Organização de Eventos Culturais, Portugal
visaocultural@mail.telepac.pt
Sandra Nogueiraii
Licenciada em Antropologia
Professora da Enid High School, Enid, Oklahoma, EUA
sandrix@swbell.net
Resumo
A função social do brinquedo e dos jogos, bem como o papel destes na socialização dos indivíduos,
são o tema principal deste trabalho. O manuscrito menciona e analisa o papel dos brinquedos e das
brincadeiras na interacção social de homens e mulheres na primeira metade do Século XX, em
Alcanena, Concelho rural, situado no Ribatejo centro de Portugal.
Partindo de trabalho de campo focalizado na recolha de informação junto da população idosa deste
Concelho, o estudo vai mais além quando examina até que ponto, os brinquedos podem ter entre
outras funções, a da definição de papéis e a da estratificação sócio-económica dos indivíduos.
Palavras-chave
Brinquedo; socialização; coesão social
Abstract
The social functions of the toys and the games, as their role in the socialization of the individuals are
the reason of this paper. It mentions and analyses their role in the female and male social interaction
during the first part of the 20th Century, in Alcanena, a rural municipality in the centre of Portugal.
Starting with a field work focused on collecting information through elderly people, the study goes
further, when tries to understand how toys carry among their functions, the individuals roles definition
and their social economic status.
Key words
Toy; socialization; social cohesion
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Dossiê Gênero
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Introdução
Brinquedos e Jogos Tradicionais é a temática que nos propomos tratar neste artigo que se baseia
num estudo de carácter monográfico produzido para a Câmara Municipal de Alcanena.
É de louvar o interesse e empenhamento desta autarquia no que respeita ao investimento que tem
feito na investigação de carácter antropológico e, como tal, agradecemos desde já ao Engº Luis
Azevedo, presidente da Edilidade e ao vereador Daniel Café, responsável pelo pelouro da Cultura e
Ensino.
Embora existam já alguns trabalhos editados nestas áreas no que concerne ao Ribatejo e, mesmo ao
concelho de Alcanena, especialmente no que respeita ao jogos tradicionais, estes resumem-se
apenas à recolha e descrição dos mesmos, não tendo obviamente o intuito de aprofundamento dos
assuntos.
Destaca-se, porém, a dissertação de Mestrado de Ana Maria Sequeira, no âmbito do curso de
Educação Física e Desporto da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias que, apesar
de não se encontrar publicado nos foi gentilmente cedida pela autora.
Parece-nos, pois, relevante analisar este objecto de estudo à luz da ciência antropológica e
concentrarmos a nossa atenção na função social que os brinquedos e jogos tiveram na primeira
metade do século XX no concelho de Alcanena.
Com isto, pretendemos não só contribuir para um maior conhecimento dos usos e costumes do
Concelho, mas também para uma maior compreensão do passado recente. O registo e análise de
diferentes modos de ocupação do tempo e a consequente divulgação dos hábitos de outras
gerações torna-se, sem dúvida, uma mais valia para as gerações vindouras, pois
nos nossos dias, os brinquedos perderam muito do seu valor social e dos seus significados
lúdicos e mágicos. Deixaram de ser instrumentos activos de formação e divertimento para se
converterem em mercadorias (...). (Pacheco;1995)
Que valor social seria esse que, presumivelmente, se terá perdido para o mundo actual? Que função
social teriam os brinquedos e os jogos nas sociedades ditas tradicionais?
O estudo do caso de Alcanena tem como objectivo dar resposta a questões como estas.
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Entenda-se “valores sociais” como modelos gerais de conduta que favorecem a integração social e
que desenvolvem os laços de solidariedade e entenda-se “função social” como um elemento que só é
explicável em função do todo socio-cultural. O fato de cada cultura ser constituída de uma multidão de
traços selecionados integrados num sistema total significa que todas as partes têm um
relacionamento especial com o todo. (Hoebel; Frost; 1976) Isto é, os usos e costumes relativos aos
brinquedos e jogos existentes no concelho de Alcanena só são entendíveis como parte integrante da
cultura daquela comunidade.
Trata-se de uma perspectiva funcionalista em que se enfatiza a dinâmica que impera dentro de uma
cultura.
Preocupa-se com muito mais do que com a mera descrição de hábitos e costumes. A.R.
Radcliffe-Brown (1881-1955), que foi um dos primeiros expoentes do funcionalismo e que
contribuiu muito para a seu desenvolvimento, usava uma analogia biológica para tornar mais
clara a sua significação. As funções de cada parte são encontradas nas contribuições que dá
a parte para a manutenção do processo vital de todo o organismo. O mesmo acontece com a
cultura. As funções de cada costume e de cada instituição são encontradas nas contribuições
especiais que dão para a manutenção do modo de vida, que é a cultura total. Malinowski
ressaltou que o inter-relacionamento de todas as partes de uma cultura significa que a
modificação de qualquer parte individual produzirá inevitavelmente modificações secundárias
nas outras partes. (Idem)
Para Marcel Mauss, os jogos são actividades tradicionais que têm como objectivo um prazer
sensorial, de algum modo estético. Os jogos estão, muitas vezes, na origem dos ofícios e de
numerosas actividades superiores, rituais ou naturais, ensaiadas, primeiro, na actividade excedentária
que os jogos constituem. Distribuem-se entre as idades, os sexos, as gerações, os tempos, os
espaços. (Mauss; 1967)
Este autor insere aquilo a chamamos brinquedos numa classificação geral de Jogos Manuais, mais
concretamente como jogos materiais permanentes. (Idem) Embora tenhamos em conta a
classificação de Mauss, iremos analisar os brinquedos e os jogos sob os pontos de vista da
socialização e da coesão social.
Entenda-se, pois, “socialização”, como um processo pelo qual ao longo da vida a pessoa humana
aprende e interioriza os elementos sócio-culturais do seu meio, integrando-os na estrutura de sua
personalidade sob a influência de experiências de agentes sociais significativos, adaptando-se assim
ao ambiente social em que deve viver (Rocher). (Lakatos; 1976) A socialização surge, assim, como
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um processo de integração que motiva o desenvolvimento da cooperação e da solidariedade entre os
membros do grupo, permitindo a sobrevivência do próprio grupo. (Oliveira; 1986)
Os brinquedos e os jogos são, deste modo, actividades tradicionais que, através de um processo de
socialização, concorrem para uma maior coesão social.
Com base nos testemunhos dos nossos informadores, pretendemos verificar a relação existente entre
os brinquedos e jogos tradicionais e o poder económico diferenciado e o meio ambiente envolvente,
tendo igualmente em conta o carácter feminino ou masculino associado aos mesmos.
As variáveis jogo e brincadeira, podem desta forma, ser analisadas sob diversas perspectivas:
1. Género
Apesar da classificação lúdica que o jogo e o brinquedo primeiramente possam ter, estes definem e
contribuem também para o desenvolvimento do papel social de cada um dos sexos.
Na esfera social, os papéis das crianças são desde cedo definidos pelo tipo de actividade lúdica que
praticam, sendo estas claramente dicotómicas, ou seja, brinquedos e brincadeiras para raparigasiii e
brinquedos e brincadeiras para rapazes.
O acto de brincar cedo ajuda a projectar social e sexualmente as responsabilidades de cada um dos
géneros.
a. No caso feminino, as brincadeiras e os brinquedos, situam-se na esfera da sua condição de
mulheres, mães, esposas e donas de casa, que se assume todas elas um dia serão. Exemplo
disso são o brincar com bonecas, brincar às casinhas, costurar, bordar, etc.
b. No caso masculino, eram vedadas as brincadeiras ligadas à vida domésticaiv,
nomeadamente a partir de uma determinada idade, sendo esses momentos lúdicos
preenchidos com objectos como carros, rodas, jogar o pião, jogar à bola, brincar ao papagaio
– este tem a particularidade de envolver o sonho de voar, visto tradicionalmente como uma
actividade masculina - .
Todas estas brincadeiras e comportamentos a ela ligados, têm directa ou indirectamente ligações a
estereótipos culturais ligados a poder, controlo, capacidade de liderança e luta, características estas
vistas apenas nos indivíduos do sexo masculino. Os brinquedos e o jogo, são sem dúvida e
primeiramente instrumentos definidores do género dos indivíduos, não do ponto de vista biológico,
portanto sexual, mas do ponto de vista sócio-cultural, ou seja, o que define e diferencia o masculino
do feminino.
“Think male and female as designating the biological categories of sex, while masculine and feminine
designate the social, cultural, and psychological categories of gender.” (Hockenbury & Hockenbury,
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2003: 411). Estes mesmos autores citam os psicólogos Rhoda Unger e Mary Crawford, reafirmando
que “ Gender is what culture makes out of the raw material of biological sex.” (Idem). É portanto, o
comportamento social e cultural da sociedade, face a cada um dos indivíduos, que define géneros.
2. Tempo, Quantidade, Qualidade e Status Social
Os objectos com que se brinca, a quantidade, qualidade e valor económico dos mesmos, são
indicadores do estracto social das crianças que com eles brincavam.
Este texto, sendo fruto de trabalho de campo desenvolvido num Concelho eminentemente rural, onde
a população vivia na 1ª metade do século XX, abaixo dum padrão económico confortável, é revelador
de que os brinquedos eram escassos em quantidade e diminutos em qualidade. À maioria das
crianças de ambos os sexos, era posta à prova a sua capacidade imaginativa e criativa, pois os
brinquedos eram criados e aperfeiçoados pelas próprias crianças.
Os brinquedos eram fabricados com as matérias-primas existentes no seu meio ambiente e deste
factor dependia directamente a questão da durabilidade destes. Criados com matérias simples,
facilmente perecíveis ou destrutíveis como cartão, cortiça, papel, tecido, etc, a qualidade dos
brinquedos era por conseguinte muito limitada.
A única vantagem é que sendo facilmente degradáveis, a capacidade renovativa e inventiva era
bastante mais acentuada. Principalmente quando não se podia de imediato substituir o brinquedo
destruído. Outro brinquedo ou outra brincadeira, teria de surgir para preencher este espaço.
No entanto nem só a quantidade e qualidade dos brinquedos eram reveladores do estracto
económico das crianças. O tempo e a idade em que se brincava eram igualmente reveladores
económico-sociais. Crianças filhas de trabalhadores rurais, brincavam muito menos tempo por dia, do
que os seus congéneres, filhos de lavradores ou de outras famílias abastadas. As crianças de classe
social baixa, começavam a trabalhar desde muito tenra idade e o seu tempo de vida infantil era por
conseguinte bastante mais reduzido, do que as crianças provenientes de classes sociais mais
confortáveis.
3. Género e Espaço
A pesquisa desenvolvida revela também que o espaço físico onde decorriam as brincadeiras era na
maioria dos casos revelador quanto ao género, ou seja, de uma forma geral as crianças do sexo
feminino brincavam em espaços mais interiores, pequenos, como dentro de casa, no quintal ou no
pátio da escola. Brincavam maioritariamente em pequenos grupos, sózinhas, tendo as brincadeiras a
característica de serem alternadas. Sendo a sua forma de brincar repetitiva, não lhes despertava um
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certo espírito competitivo, lutador e desafiador, tipicamente característico, das brincadeiras e jogos do
sexo masculino.
Os rapazes brincavam em espaços muito mais no exterior do que interior e, em regra geral espaços
abertos e de grande dimensão, contrastando com o espaço lúdico dedicado às raparigas. Vemos
pois, os rapazes a terem as suas brincadeiras maioritariamente na rua, nos campos – enquanto
tomavam conta dos animais de pasto, por exemplo -, no largo da aldeia, no adro da igreja, no pátio da
escola e maioritariamente em grandes grupos. Esta realidade desenvolveria posteriormente neles
técnicas competitivas, empreendedoras, grandes disputas e desafios. Estes jogos ou brincadeiras
desenrolados em grandes grupos, dar-lhes-ía facilmente um entendimento quanto à interdependência
dos papéis sociais de cada um dos intervenientes. Uma socialização feita em larga escala, através
das relações com o exterior, com o mundo lá fora, enquanto que às raparigas a socialização era
muito vocacionada para dentro e confinada às relações de dependência e não de interedependência.
Há por conseguinte um controlo social sobre o género feminino, não só através das brincadeiras e
dos brinquedos, mas também através dos espaços lúdicos a elas destinados. De uma forma geral,
indivíduos do sexo masculino e feminino não brincavam juntos e em muitos casos nem sequer
partilhavam o mesmo espaço físico nas suas brincadeiras.
Situações em que aparecem ambos os sexos juntos, acontece na maioria das vezes, durante a
adolescência, nomeadamente em actividades, como bailes, festas populares, ou reuniões sociais à
volta de uma fogueira. Mas mesmo aqui, em muitas das freguesias analisadas, as raparigas eram
quase sempre acompanhadas por um adulto.
Este trabalho reparte-se por duas grandes áreas, sendo que dedicamos a primeira parte, àquilo a que
resolvemos entitular de Brincadeiras de Outros Tempos. O capítulo consubstancia-se nas próprias
palavras dos informantes, pois nada melhor para o leitor que poder imaginar através das palavras e
expressões dos mesmos como se brincava antigamente. Na nossa opinião esta modalidade permite
que a mensagem possa ser comunicada de forma mais real, quase como se de um quadro se
tratasse, um quadro colorido.
Optámos por identificar o discurso de cada um através de um diminuitivo da nossa inteira
responsabilidade, sem que a freguesia a que pertencem esteja claramente identificada. Isto porque
chegámos à conclusão que a residência de cada informante não é relevante para as questões em
análise e, por isso mesmo, pretendemos espelhar a homogeneidade existente em termos geográficos
salientado a importância de outros factores.
A segunda parte é inteiramente dedicada à análise dos brinquedos e dos jogos tradicionais. Da
origem e expansão dos mesmos até à função social que tanto os jogos como os brinquedos
ocuparam no contexto da criação dos nossos informantes, aos quais não podemos deixar de
agradecer o seu grande contributo.
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Manuel Capaz
Maria da Conceição Azedo
Crielmira de Jesus Sintrão
Maria de Lurdes Henriques
Manuel Constantino Alegre
Joaquim Jorge Correia
Joaquim Correia Martins
Maria Ferreira Louro
João Gil Martins
Maria Dionísio dos Santos Vieira
João Rosado Sebastião
Esperamos, efectivamente, que os leitores de hoje, tanto aqueles que ainda têm memória das suas
brincadeiras como os que nunca ouviram falar de bonecas de papelão e de fisgas, encontrem nesta
abordagem um conhecimento adicional sobre o concelho de Alcanena.
Brincadeiras de outros tempos
“Sãozinha”
Na minha infância, a mãe não deixava sair para ir brincar com os outros miúdos, por isso brincava em
casa no quintal. Tinha um quintal grande e ali me entretinha. Havia lá uma roseira e ali brincava à
volta. Fazia os meus jogos e cantava as minhas cantigas. Gostava muito de cantarolar!
E também usava aqueles carrinhos de linhas, que ainda hoje se vendem e andava sempre à procura
que a mãe gastasse as linhas para usar os carrinhos para fazer uns tacões para os sapatos. Enfiava
uma linha no buraco, metia-os por baixo dos sapatos e atava por cima do pé, por cima do peito do pé,
e andava. Fazia daquilo uma brincadeira.
Brincava muito sozinha. A irmã tinha 12 anos a mais do que eu e já era uma mulherzinha para fazer
outras actividades em casa para ajudar a mãe.
Bonecos só tive um. Um bonequinho que um primo meu que morava em Lisboa, e costumava mandar
umas coisinhas no Natal para nós para comer, me mandou. Mandou um boneco para mim. A cabeça
era em papelão e os braços e o tronco era tudo em pano. Era uma coisa que não se podia molhar
senão estragava-se. Era uma espécie de papelão plastificado. Eu fazia roupinhas com uns
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bocadinhos de tecido que a mãe dava, e como eu era muito jeitosa, fazia uns macaquinhos, e essas
coisas.
Também jogava à malha, que ainda hoje se joga, com um bocadinho de caco de uma telha, por
exemplo. Aperfeiçoava aquilo um pouquito. Nunca soube saltar à corda e aquele jogo que era para
pôr as duas mãos em cima das costas de uma colega, na escola, também nunca soube fazer.
Na escola, aos sábados tínhamos as nossas actividades religiosas, já fazíamos uns trabalhinhos
manuais e todos os dias se rezava um pouquinho na escola primária. Jogávamos no recreio tanto
com rapazes como com raparigas. Nunca joguei muito à bola, nem ao pião. Nunca tive muito jeito.
A minha actividade quando era mais pequena, mesmo em casa sozinha, era andar de balouço. Tinha
um balouço feito pelo meu pai debaixo de um barracão, aberto para o quintal, mesmo que chovesse
não havia problema. Tinha duas cordas, uma de cada lado, e tinha uma tabuínha em baixo. E era
assim, tomava balanço sozinha, para a frente e para trás, para a frente e para trás. Ainda hoje sei
fazer isso.
Naquela época, lá perto de mim, todos brincávamos mais ou menos desta maneira. Mas havia
aqueles matulões que já se juntavam uns com os outros ao pé de uma capelinha que ainda hoje lá
existe e eu espreitava pelo buraco do portão, com muita vontade de ir para o pé deles. Mas não, para
a rua não se podia ir. Por vezes até partiam as telhas com as fisgas, para matar os passarinhos e era
assim que eles se divertiam, a fazer mal.
“Lurdinhas”
Eu, por exemplo, era pequenita. Até ir para a escola, o filho do dono da fábrica, que era o menino
“Luízinho”,( ainda hoje é o menino “Luízinho” e tem 74 anos), ele tinha a mania que a filha do “Sr.
Joaquim”, a Lurdinhas, tinha de ir brincar com ele. Mas eu depois fui para a escola e afastei-me de lá.
Sim, ele não saía do quarto sem eu estar dentro do quarto, porque pensava que eu que fugia. Ele
dizia para a criada: “Agora fechas a porta!” E dizia para mim: “E agora tu dás a volta à cama e sentaste
aí no chão!” E eu tinha que me sentar lá no chão. Depois então é que a criada o tirava da cama, o
lavava, o vestia e o arranjava e, depois então, é que eu já podia sair. Mas se tivesse vontade de ir
fazer xixi eu não podia ir fazer, porque ele dizia: “Tu queres é fugir, mas eu não te deixo!” E eu fazia
nas carpetes...
Quando fui para a escola, afastei-me de lá logo. O meu pai era mestre e o patrão ia pedir ao meu pai
e o meu pai não lhe dizia que não. Saía uma operária da fábrica para me ir buscar a casa da minha
mãe. Quantos vezes chegou ao cabeço da mata e gritou: “Ó “Ti Maria”, venha vestir a sua menina
para ir brincar com o menino.!”
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No meu tempo, a gente, raparigas, juntávamo-nos todas. Havia um rancho de raparigas que era
qualquer coisa! Juntávamo-nos todas na fábrica. Só na minha casa éramos quatro, na casa da
vizinha eram cinco. Juntávamo-nos todas e íamos ao alecrim, e fazíamos uma fogueira quando
chegava ao mês do S. João. Todas as semanas havia fogueiras lá nos Estreitos, todas as semanas
havia bailarico. Não tínhamos mais nada, por isso era cantar e bailar ali na rua. Cantávamos,
bailávamos, saltávamos à fogueira e jogávamos ao “raminho tranchado”.
Raminho ranchado
Que nome me dás...
Era uma correnteza de raparigas e rapazes e ia uma com o raminho e dizia:
Raminho ranchado.
E a outra dizia:
Que amor me dás ou virás.
E dizia-lhe ao ouvido o nome do rapaz. Mas já não me lembro bem como era a seguir, eram
brincadeiras que a gente tinha.
A escola tinha um livro na porta da escola, em pedra, a dizer quem tinha oferecido. E tinha casa de
habitação. Tinha quartos, tinha sala, tinha cozinha, tinha tudo, para as professoras que lá estivessem
a dar aulas. Habitaram lá muitas professoras e deram aulas lá. Era uma sala grande com três
carreiras de carteiras, uma secretária e dois quadros. Foi onde eu aprendi a ler e a escrever até à 3ª
classe. Tinha um grande quintal e um poço lá em cima. Eu era muito cabrazona e havia uma ladeira
relvada e eu punha-me lá em cima deitada ao pé do poço e vinha a rebolar até cá abaixo.
O meu filho jogava muito ao dominó, às damas e ao xadrez.
*os nomes entre parêntesis foram alterados
“Manelito”
As brincadeiras era bola e coisa... eram mais ou menos... A gente não tínhamos era sítios para isso,
jogávamos no meio das fazendas, dos terrenos. E as bolas também não eram tão boas, era assim
com um bocadito de trapos, umas coisas quaisquer; não tinha dinheiro para ter essas bolas boas
como há agora.
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A gente não brincava com muitas coisas porque os dinheiros não chegavam para comprar essas
coisas. Nem havia... Hoje um miúdo é mais rico num dia do que a gente era durante toda a vida. Não
havia brinquedos e jogos como há hoje. Antigamente, mesmo que os pais tivessem possibilidades,
não havia.
Fazíamos coisas imaginárias mas nunca mais era aquilo que é hoje. Hoje há aquelas coisas plásticas
que os cachopos fartam-se de brincar e dantes era um carrinho de madeira ou uma coisita qualquer...
Mas os pais da gente não podiam comprar aquilo porque aquilo ainda era caro.
Fisgas e coisitas... Com papagaios nunca brinquei muito a isso, mas havia quem brincasse.
Pois, trabalhava-se mais cedo e os pais todos tinham que lhe dar a fazer. Quando eu era pequeno,
mesmo quando a gente saía da escola, tínhamos que ir guardar umas cabeças de gado ou tínhamos
que ir para a fazenda apanhar figos ou fazer qualquer coisa, toda a gente tinha que mexer qualquer
coisa.
Não, os rapazes e as raparigas não brincavam juntos, nem na escola nem na rua. Nunca tinham
comunicações uns com os outros. Lembro-me uma vez que meteram lá umas raparigas na escola
dos rapazes, mas quando era para brincar elas estavam todas apartadas, nunca se misturavam. Não,
não, não se misturavam e ai daquele que tocasse em qualquer coisa. Não havia possibilidade.
Ali na escola não havia condições para esse convívio. Só mais tarde quando a gente começasse a
tomar rumo de vida é que... ali não, na escola não. Mais tarde nos bailaricos ou só se fosse com
vizinhas ou com pessoas assim do conhecimento, de resto não.
“Quim”
Ah isso o piãozito era sempre o sócio da gente. Dum bocadinho de madeira fazia-se um pião que era
um instante, fisgas também. E papagaios mandávamo-los para o ar... Havia quem tivesse jeito para
fazer carrinhos de madeira, mas eu tinha pouca habilidade.
“Quinzinho”
Jogávamos à bola. Eu jogava muito, tinha uma loucura pela bola. Era o chinquilho, era o pião, o jogo
da bilha. Tínhamos para aí 7 ou 8 anos, eu andava na escola. A partir do momento em que saí da
escola já não tinha tempo para brincar.
Ainda no tempo da minha mãe, eu tinha sete anos e ela já estava doente, o meu irmão ia à escola de
manhã e eu ia de tarde, para estar sempre a brincar. Ia guardar umas 3 ou 4 ovelhas que a gente
tinha e tinha que levar os trabalhos da escola para fazer por lá.
Há uma gruta, que a gente chamava a Gruta das Figueirinhas, e eu fazia os trabalhos da escola lá.
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Fazia os meus brinquedos. Os meus brinquedos eram uma roda de cortiça, cortiça porque a gente
tinha cortiça, depois punha-lhe um eixo com uma cana.
Os rapazes brincavam com as raparigas. À porta da escola fazia-se um bailarico todos os dias. As
raparigas dançavam com os rapazes e aí é que eu aprendi a dançar. Aqui na Louriceira não havia
escola dividida. Era só uma escola, que não é aquela, é uma casa que está ali em cima, e os rapazes
estavam junto com as raparigas.
Nesta freguesia não havia condições para haver escola dividida. A escola nova foi feita em 1945 ou
46. Nessa altura já era dividido. Foi aí que eu fui fazer exame da 3ª classe do curso de adultos com
30 anos. Fui para ali junto com os rapazes. Se ficasse bem podia fazer o exame da 4ª, mas nessa
altura foi a altura em que me fui embora para Lisboa e já não fiz o exame da 4ª.
“Gilinho”
Quando era criança arranjava uma roda de um barril com um arco com arame, jogava a uma coisa
que era um pião. Jogávamos ao botão aqui nas paredes, atirávamos com o botão direito às paredes e
em ficando perto um do outro um palmo, ganhava o jogo, pois era!
“Joãozinho”
Na minha infância, quando eu era criança, gostava muito de jogar à bola. Pratiquei futebol até quase
aos 40 anos, mas levei pancada quando era miúdo. O meu pai não gostava que a gente jogasse à
bola. Tenho um irmão que era um «encegueirado» a jogar à bola, «encegueirado» mesmo pela bola,
mas era mais reguila. Eu não, eu acobardava-me mais e então cheguei a levar tareia. Tinha 12, 13 e
14 anos. O meu pai não queria que eu jogasse à bola, porque não gostava que eu jogasse à bola.
Os pais não gostavam que a gente jogasse à bola, não se compreende porquê?! Quer dizer, até se
compreende! Havia falta de um bocado de mentalidade nas pessoas. O meu pai, então, nunca me
bateu por “isto”. Eu fui caçador durante muitos anos e aí é que ele.., cada vez que eu saía para a
caça, aí é que ele ficava todo contente. Mas jogar à bola.., cada vez que ele sabia que eu ia jogar à
bola... A gente aqui jogava. Eu joguei em Alcanena, e aqui as aldeias jogavam umas com as outras.
Cada vez que ele sabia, a minha mãe tinha que fazer aquele papel, ralhava, ralhava “E agora foste
jogar à bola e agora partes uma perna ou partes um braço!!” Ou mais isto ou mais aquilo... Era
mesmo assim, a gente tinha que trabalhar todos os dias. Não gostava que a gente jogasse à bola!
O brinquedos, antigamente, fazíamo-los nós.
Sabe o que é uma pinha de um pinheiro? Bravo, de um pinheiro bravo. Há o pinheiro manso e há o
pinheiro bravo que é uma pinha sobrecomprida. A gente apanhávamos as pinhas bravas,
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apanhávamos as pinhas bravas e com duas pinhas e um cavaco em cima daquelas caixas que as
pinhas tinham. Era a canga, era uma junta de bois. As pinhas eram a junta de bois e atávamos uns
cordelinhos para puxar por eles. Fazíamos um carrinho de cortiça, com duas rodazinhas de cortiça,
que a gente fazía, púnhamos o carrinho atrás das pinhas e era os bois que puxavam as pinhas.
Bicicletas... Tínhamos naquele tempo uma bicicleta. Arranjávamos duas canas, abríamo-las ao meio,
metíamos uma rodazinha de cortiça no meio, com um eixozinho de madeira. Fazíamos-se uma
bicicletazinha e aqui em cima fazia-se um guiador com uma rodazinha de cortiça.
E era o arco, era o arco... De ferro ou de lata, ou de chapa, desta coisa dos arcos dos barris de vinho.
Arranjávamos uma gancheta para tocar o arco e eram essas as nossas brincadeiras aqui.
E era jogar ao pião, jogar ao feijão... Pronto, eram essas as brincadeiras que a gente tinha.
Os rapazes e as raparigas não brincavam muito juntos. Não muito. Antigamente, normalmente os pais
não consentiam que elas se juntassem com rapazes a brincar. Não senhora!
“Manelinho”
Naquela altura era diferente de agora, porque os divertimentos desse tempo das aulas na escola era
brincarmos uns com os outros. Jogava-se ao pião, jogava-se com as bugalhazitas. Bugalhazitas
pequenitas dos carvalhos. E a correr atrás uns dos outros e a fazer saltos para cima uns dos outros.
Era tudo diferente de agora, agora não há nada disso.
As raparigas brincavam para um lado e os rapazes para o outro. Agora é que é tudo misturado. Era
rapazes com rapazes e raparigas com raparigas. Mas às vezes também brincávamos com raparigas.
“Mariazita”
As crianças brincavam nas rua umas com as outras.
Não havia os passatempos que há hoje e à noite estava tudo em casa.
Entrávamos aos sete anos para a escola. Não havia jardins-escola nem essas coisas e aqui se
entretinham uns com os outros.
“Mariazinha”
O meu pai foi um homem muito orientado, mas andava por lá quando era ao fim de semana estavam
por lá nas tabernas até ao outro dia a jogar ao dinheiro. Depois isso foi proibido, mas esta gente
antiga, como o meu pai, jogavam muito. Jogavam às cartas ao dinheiro.
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“Mirinha”
Eu tinha muito jeito para fazer isso, ainda hoje tenho muito jeito para vestir as minhas bonecas. Os
meus brinquedos eram sempre uma boneca de papelão e um boneco. Era assim, não havia outra
coisa. Agora já é outra coisa, já tenho mais bonecas. Adoro bonecas!
Quando era criança, a gente não tinha dinheiro para um bocado de pão, quanto mais para um
brinquedo. Numa casa de titulares em que trabalhei no dia dos anos todos tínhamos um brinquedo.
Agora quando tinha 20 anos já gostava de brincar era com gajos... queria lá saber dos brinquedos.
Nunca fui de muitos jogos. Tinha mais inclinação para me sentar ao sol numa cadeira ou numa pedra
e aprender a fazer uma baínhazinha, isso gostava muito.
Jogávamos com um bocado de telha e fazíamos uma bola com uma meia atada de um lado e do
outro, enchíamo-la com bocados de trapos velhos e era assim que a gente fazia a bola para jogar.
Não tínhamos outra coisa, mas também não aleijava os pés à gente...
Os rapazes e as raparigas brincavam juntos, não havia maldade.
Nunca fui de bailes nem de festas. Estou em Alcanena há uma data de anos, no entanto há aqui a
festa de S. Pedro e de S. João e nunca lá pus os pés. Começou-me a morrer muita família, irmãs logo
muito cedo, morreu-me o meu pai muito cedo..., não nunca mais.
Segundo Zulmira Bento:
Antigamente, no Vale Alto, não se compravam brinquedos. Contudo, brinquedos não faltavam pois,
nem a matéria-prima nem a imaginação escasseavam. Os brinquedos concebidos e executados pelas
crianças, para além de personalizados, revestiam-se de um encanto e magia muito particulares e
reflectiam, naturalmente, a ambiência rural nas suas múltiplas facetas.
Exemplos de alguns desses brinquedos:
• Carrascas dos pinheiros eram berços, carrinhos ou barcos
• Duas tampas de caixa de pomada dos sapatos, unidos por um fio a uma armação de arame,
formavam uma balança
• De canas ou de ramos de sabugueiro faziam-se pífaros
• Dois troncos com bifurcação para colocar os pés eram «muletas» (sic) (Andas)
• Com uma noz furada a que se prendia uma roda de cortiça, através de um cordel, inventavase
um «corropio» (sic)
• Um pau equilibrava o aro duma bicicleta velha, a girar, a roda
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• Uma corda atada a um ramo de oliveira, era um balancé
• As candeias, flores espontâneas que abundam nos primeiros meses do ano, transformavamse
em candeias «a sério»
• Carumas entrelaçadas eram santinhos que se sustinham em pé
• Quatro rodas de casca de melão e cavaquinhos a uni-las faziam um carro
• Um pau bifurcado e um elástico formavam uma «atiradeira» (sic) (Fisga)
• Duas pinhas, atadas por um fio de comprimento variável, representavam uma junta de bois e
um pau ao ombro, o aguilhão
• Com caixas de fósforos construíam-se cestinhas
• Raminhos de cerejas serviam de brincos
• Com trapos velhos faziam-se lindas bonecas
• As paredes velhas armazenavam arroz para «cozinhar», o chamado arroz dos telhados
• Um carolo transformava-se em boneco, sendo dois pauzinhos as pernas e o terceiro os
braços
• Novelos de meias velhas serviam de bolas
• Mãos habilidosas recortavam elegantes figuras de papel
• As partes laterais de um pé de milho, para esse fim golpeado, produziam estalidos, quais
castanholas
• Um curto e certeiro golpe num pé de trigo fazia um apito
Na Santana, feira anual de Minde, os petizes esbugalhavam os olhos perante as carrocinhas de
lata, bonecas de papelão, brinquedos de madeira, sem esquecer as vistosas e tentadoras bolas
de serradura. Estas irresistíveis bolas, forradas a papel prateado de cores vivas, presas aos
dedos por um elástico, iam e vinham batendo na palma da mão até que uma distracção, ou um
impulso excessivo, fazia espalhar a serradura pelo chão.
Flautas, canivetes e cornetas constituíam outras tantas tentações. (1994: 189;190)
Dos Brinquedos aos Jogos Tradicionais
A origem do brinquedo perde-se no tempo, se tivermos em conta que qualquer objecto se pode
transformar num meio de divertimento. Qualquer pedrinha ou qualquer pauzinho serve para entreter a
imaginação fértil de uma criança.
De acordo com Pina Rodrigues, “O brinquedo-objecto nasceu com o Homem. O brinquedo-jogo veio,
possivelmente, depois, já que as suas regras deixam supor a existência de uma sociedade mais ou
menos organizada, com as suas normas de vida, as suas leis.” (1983:9)
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Neste sentido quase que somos levados a crer que as sociedades menos complexas como as dos
caçadores-recolectores não recorrem ao brinquedo-jogo como forma de educação, o que não nos
parece plausível. As sociedades encontram-se organizadas com maior ou menor complexidade, mas
as normas de conduta e os costumes existem na mesma independentemente do grau de
complexidade.
Efectivamente, “Os primitivos nunca enfatizam «a educação para a vida» como o fazemos em nossas
escolas. Num grupo tribal, a educação é vida. Os pais não trabalham em fábricas ou escritórios que
as crianças nunca vêem. As crianças não ficam encerradas numa escola longe de casa durante horas
e dias sem fim. Num simples acampamento ou aldeia, as crianças estão em volta de um lado para o
outro enquanto se realizam todas as actividades fundamentais da vida adulta. Eles podem brincar
com um arco e uma flecha até chegarem à idade de irem para a caça e aprenderem a preceito, na
prática, como usá-los com maestria.
Eles podem brincar em volta das crianças mais velhas que estão guardando o rebanho até que
estejam aptos eles mesmos, para guardá-los. Podem ver e imitar os dançarinos até que eles próprios
sejam admitidos à dança.” (Hoebel; Frost; 1976:60)
Parece-nos que a precedência do brinquedo-objecto face ao brinquedo-jogo tem menos a ver com o
grau de desenvolvimento das sociedades em si e mais com o estágio de aprendizagem do indivíduo
face à sua integração na comunidade. Isto porque o brinquedo-objecto poderá ser mais facilmente
associado ao entretenimento individual enquanto o brinquedo-jogo implica a relação de grupo e,
consequentemente, a aprendizagem de regras de convivência social.
Pegar numas pedrinhas e num pau e transformá-los num brinquedo é um cenário tão realista numa
tribo nómada de África como o é em Alcanena na primeira metade do século XX. Mas do brinquedoobjecto
com base nos materiais que a natureza fornece aos carrinhos telecomandados dos dias de
hoje vai um grande passo e aqui sim, o desenvolvimento tecnológico das sociedades modernas
ocidentais é factor decididamente explicativo.
No entanto, o brinquedo-jogo, como por exemplo o jogo da bola, implica já a aprendizagem das
regras da sociedade e o treino de convivência dentro do grupo. As regras do jogo associadas ao
brinquedo são já modelos de vivência em grupo e regras de conduta social, sejam estas mais simples
ou mais complexas.
“Irrequieto como as crianças que diverte, o brinquedo salta fronteiras, não pára, corre o mundo inteiro.
Atravessa continentes e oceanos, acompanha os guerreiros na conquista das terras, as populações
nas suas deslocações, os navegadores nas suas longas viagens.
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Torna-se cidadão do mundo. As crianças adoram-no, os adultos ao vê-lo revivem tempos passados.”
(Rodrigues; 1983:9)
O brinquedo é universal; o jogo é universal. O acto de aprender a brincar é comum a todos os povos
e a todas as culturas, sejam eles pastores nómadas em África ou camponeses na China, vivam eles
em Tóquio em pleno século XXI ou em Alcanena no princípio do século passado.
“Pondo de parte certos aspectos de difusão de brinquedos por antigos povos invasores da Península
ou casos de aparecimento simultâneo em regiões culturais muito separadas entre si e que não
sofreram, nesse campo, influências externas, e reportando-nos a tempos mais modernos, essa
expansão devia ter sido feita por uma das vias normais da interpenetração cultural – pessoas dumas
localidades que se fixam definitiva ou temporariamente noutras (...).” (Rodrigues; 1983:12)
Muitos dos brinquedos e dos jogos existentes no concelho de Alcanena são comuns a todo o País e a
outras regiões do mundo, como o papagaio, o pião ou a bola, apenas para referir alguns exemplos.
“Pintores de fama não desdenharam reproduzir nas suas telas os mais variados brinquedos.
Bruegel – pintor flamengo do Séc. XVI – no seu quadro «Jogos Infantis» exposto no Museu Histórico
de Arte de Viena, pintou os jogos e brinquedos usados pelas crianças da sua época. Nele se vêem
rapazes com o pião, as andas ou pernas de pau, o belindre, jogando ao eixo, correndo com o arco,
jogando o «lá-vai-alho», andando às cavalitas, brincando à malha ou aos paulitos, montando o cavalo
de pau, etc. As meninas brincam às «cadeirinhas» com os rapazes, uma outra enche de ar uma
bexiga de porco e joga às «lojas» com uma balança (...) e, ao pé, um «papelúcio» com pó de tijolo, pó
que ela procura obter de um tijolo que esfrega, exactamente como o faziam as meninas de poucas
décadas atrás.
Algumas brincam com bonecas ou andam de baloiço. Aparecem também a cabra-cega, o comboio e
outras brincadeiras que desconhecemos. Este quadro, de grande importância para o estudo dos
brinquedos e dos jogos do Séc. XVI é mais um documento a confirmar a sua universalidade.
Noutro quadro de Bruegel - «Combate entre o Carnaval e a Quaresma» -, também exposto naquele
museu, lá vemos o pião.
Velasquez reproduziu no quadro «Príncipe Baltazar Carlos o Caçador» uma pequena espingarda; e
Goya, outro afamado pintor espanhol, reproduziu «La Cometa» (o papagaio de papel) em obras
expostas nos Museus do Escorial e do Prado.
No Museu do Prado está também um outro trabalho deste pintor - «Los Zancos» (as andas).
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O nosso grande José Malhoa no «Pastorinho» pintou uma flauta rústica tocada por um pequeno
pastor. No quadro «O Pífaro Novo», Henrique Pinto mostra-nos um rapazito tocando pífaro.
O saragoçano Bayeu, em «O jogo da Vaquinha» também exposto em El Escorial, mostra-nos rapazes
brincando às touradas com uma espécie de tourina feita de um cesto.” (Rodrigues; 1983:11)
A cultura desenvolve-se através de inovações e, especialmente, através de processos de difusão.
Muitos dos brinquedos que hoje conhecemos correram o mundo e foram sofrendo alterações de
acordo com a cultura específica de cada povo.
Com o incremento das trocas, também a interpenetração cultural se intensifica. As migrações
proporcionam um maior enriquecimento cultural e, sem dúvida, que o concelho de Alcanena não está
isolado deste fenómeno. Quantos não foram aqueles que aqui fixaram residência? Quantos não
foram os que emigraram e regressaram à sua terra natal? O património cultural do Concelho no que
respeita aos brinquedos e jogos tradicionais reflecte toda esta riqueza.
De acordo com Pina Rodrigues, “Não obstante as diferenças existentes em muitos aspectos da vida
social e cultural das diversas províncias portuguesas, os brinquedos são praticamente os mesmos de
Norte a Sul do nosso país, embora uns sejam mais usados do que outros e ser possível terem
desaparecido aqui para aparecerem ali, desaparecerem agora para surgirem mais tarde com outras
modalidades.” (1983:12)
Haverá brinquedos mais comuns a umas regiões do que a outras, como o caso da “tourinha” na
região da Lezíria, mas muito raramente existirá exclusividade.
“Mais recentemente a expansão cultural pelos meios de comunicação social, com toda a sua carga de
aspectos positivos e negativos, tem igualmente grande importância no respeitante à imitação por
parte das crianças de inventos como o automóvel, o submarino, o avião, o foguete interplanetário.”
(Rodrigues; 1983:12)
E, por outro lado, “Feito dos mais diversos materiais – madeira, barro, metal, papel – têm mantido as
suas características essenciais em toda a parte, com maior ou menor rudeza, com maior ou menor
perfeição. É o caso do pião, belindre ou papagaio.
Se é certo que poderiam ser imitados de objectos usados para fins diversos que não para distrair
crianças, como o papagaio utilizado na China como planador para observar tropas inimigas e enviar
mensagens de pedido de socorro no caso de cidades cercadas, também é certo que têm contribuído
para o avanço das ciências. O pião deu origem ao giroscópio e às suas variantes, indispensáveis
para vigiar a estabilização de navios, submarinos e aviões; e o papagaio, experimentado com fins
científicos, serviu de base à invenção do pára-raios.
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O brinquedo adapta-se, acompanha a evolução das sociedades onde se integra, nos seus usos e
costumes, na sua técnica, na sua vida social.
A boneca de África não é feita da mesma madeira que as das províncias portuguesas ou
apresentadas pela indústria. Os materiais variam consoante os lugares e, no caso dos brinquedos
industriais, conforme o avanço técnico dos fabricantes.
A boneca moderna anda pelo seu pé, chora, diz «papá» e «mamã» e bebe o leitinho todo. Só lhe falta
ter alma.
O automóvel e o comboio de madeira ou de arame e cana, dos meios rurais, precisam de quem os
puxe; os carros modernos feitos de material plástico ou outro, com grande cópia de pormenores de
inexcedível perfeição, andam sozinhos ou são telecomandados; o comboio tem vida própria, anda
pelas linhas e obedece aos sinais como se fosse conduzido por maquinista experimentado.”
(Rodrigues; 1983:9;10)
Efectivamente, o brinquedo evolui, tal como evoluem as sociedades. As crianças de hoje já não
brincam com carros de bois em madeira, pois estão inseridas no seu tempo tal como os seus avós e
bisavós estavam contextualizados nos seus. O mundo das crianças de hoje é o mundo da informação
e da realidade virtual, é o mundo dos complexos sistemas tecnológicos e da economia global. Não é
um mundo pior nem melhor, é simplesmente diferente.
No que respeita concretamente ao jogo, e de acordo com Ana Maria Sequeira, “Para conhecer o jogo
é necessário antes de mais conhecer o seu envolvimento (o exterior); o tempo e o espaço, são
fundamentais na vida do Homem e expressam a importância e a interpretação do jogo tradicional por
parte do Homem. Tal concepção expressa-se no jogo na sua dimensão simbólica.” (1997:9)
E ainda: “Outros jogos tiveram origem no trabalho humano ou nos utensílios do trabalho, sobretudo
no rural.
A ligação de alguns é bastante mais evidente que noutros, como é no caso da subida do pau de
sebo, resultante do trabalho dos madeireiros no corte das florestas; a corrida de sacos, relaciona-se
com a guarda dos cereais; a corrida de cântaros, evoca o trabalho da mulher a ir à fonte buscar água;
o jogo do malhão, terá a sua origem no trabalho em pedreiras ou dos canteiros; o jogo da pinha e a
reca relaciona-se com o ponheiro, (dela existem outras variantes, a mais simples e variada é a
bilharda); o jogo da corrida de burros no qual se utilizava um burro para o transporte de pessoas e
cargas relacionadas com a ida às «hortas» e serviços a ele relacionados; o jogo do pau, nasce do
cajado do guardador de rebanhos, que serve de auxiliar nos caminhos acidentados, de apoio para as
fadigas e de arma contra qualquer espécie de inimigo.
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Nem todos os jogos mostram tão claramente a origem laboral. É o caso da malha ou fito. Antigamente
era jogado com pedras, pedras essas que eram atiradas para moragalhos ou que atiravam, a
pássaros tentando acertar-lhes. Ora daqui até ao jogo vai um passo. Hoje este jogo joga-se com
malhas de ferro ou moedas.
Para o jogo da bilharda, não se utilizam pequenos paus aguçados cortados das árvores por um
canivete. Terá bastado um toque com um outro pau numa das suas pontas eventualmente aguçadas
para desencadear o processo lúdico.” (1997:10)
E prossegue, citando A . Cabral, na sua obra “Jogos Populares Portugueses” (1987):
“Os jogos mais genericamente articulados com o ambiente de trabalho são
aqueles que surgem mais espontaneamente ao espírito dos trabalhadores nas
suas tardes de Domingo.”
Se bem que o jogo está vinculado ao trabalho, difere no entanto dele, pois ao trabalhar o homem não
realiza apenas o necessário. Ele faz o que tem de fazer obrigado pela necessidade prática ou
induzido pelos seus deveres independentemente de interesses ou necessidades imediatas.
A diferença essencial entre a actividade do jogo e a do trabalho reside na diferente atitude da
personalidade em relação à sua própria actividade.” (1997:10;11)
A referida autora refere A. Cabral e a sua opinião quanto à existência de três atitudes fundamentais
que estão na origem do jogo popular: a transferência, a imitação e a substituição.
Por transferência, entenda-se o trabalhar numa actividade lúdica por se lhe ter achado prazer. É o
caso do malhão, corrida de andas, subida ao pau ensebado, jogo da reca, jogo da pedra, etc.
Embora a imitação esteja presente na atitude anterior, não o está de forma decisiva. Efectivamente,
“A imitação é a atitude dominante, retoma o nome e a estrutura, mas modifica os processos e os
objectos. Tome-se por exemplo a corrida de carros de pau que imita as corridas de cavalos,
automóveis, motos, etc.
Os jogos são, pois, uma bela forma de relação intersubjectiva, de actividade social.
A imitação mantém-se depois da entrada na escola primária.” (1997:11)
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Quanto à substituição, trata-se de substituir o objectivo da acção prática pelo objectivo da acção
lúdica, que se torna, deste modo, símbolo do primeiro.
Ana Maria Sequeira considera que o jogo dos polícias e ladrões, o jogo das mães e filhas, etc. são
exemplos desse processo de substituição.
No entanto, demonstra o quanto estas três atitudes interagem umas com as outras no processo de
construção da personalidade da criança.
“Ao observar a criança nestes jogos, para além da imitação ao adulto, o que mais sobressai é a
transferência para o jogo da necessidade de se afirmar, de mostrar que ela também tem uma
personalidade. Como diz Chateau: «A criança refugia-se num mundo onde é toda poderosa».
À transferência que consiste em transformar uma atitude séria numa atitude lúdica, não lhe podemos
chamar só de transferência porque neste caso ela conjuga-se com a imitação. É o caso das crianças
brincarem às professoras e alunos, ao bom barqueiro, etc. Aliás, as atitudes de imitação, de
transferência e de substituição conjugam-se, dependendo da capacidade inventiva.” (1997:12)
Se assim é entendido na perspectiva da psicologia, sob o ponto de vista antropológico, é
através de um processo de imitação que a criança aprende os padrões de conduta da sociedade em
que está inserida. Através do brinquedo e do jogo a criança é socializada ou enculturada, isto é,
aprende de forma não institucionalizada, de forma inconsciente. Joga o jogo da vida.
Segundo Bernardo Bernardi, “É importante notar que a enculturação, na mesma medida em que é
transmissão da cultura estabelecida pelos pais (...), é também um meio de crítica, isto é, de escolha,
que implica adesão conformista ou, no extremo oposto, recusa renovadora. A enculturação actua num
momento preciso que poderia também descrever-se como presente cultural e reflecte o etnostilo
desse dado momento; mas, embora se baseie naquilo que já foi construído no passado, projecta-se
no futuro.” (1974:92;93)
Um jovem de Alcanena de hoje, como qualquer um de qualquer outra cultura, torna-se
comparticipante do modo de vida de Alcanena de hoje e prepara-se para construir o futuro do
Concelho de amanhã.
“O processo enculturacional informal dá-se continuamente ao longo de toda a vida. Não há
momento algum em que cada um de nós não amadureça com actividade autónoma, ou não
receba, conscientemente ou não, quaisquer valores ou modo de vida pelos quais se torna
membro de uma determinada cultura num preciso momento de tempo e de lugar (...)”.
(Bernardi; 1974:93)
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“O fenómeno revela-se com maior incidência no período da infância, quando a criança é
educada para ser homem, no âmbito da família e dos grupos espontâneos da mesma idade.
O objectivo essencial da família é dar à criança uma forma de vida, um etnostilo, algo a que
conformar-se como ponto de referência quanto mais não fosse para superá-lo ou negá-lo. Na
família, particularmente no primeiro contacto com a mãe e, depois, com os outros membros, a
criança aprende quem é, o que vale, o que deve fazer para se tornar homem adulto.” (Idem)
De acordo com Bernardi, “A formação de grupos espontâneos entre crianças pequenas só
aparentemente tem como fim o divertimento e o jogo; na realidade, representa a primeira tomada de
consciência das relações sociais e um modo concreto de as realizar.” (1974:94)
“A criança de ontem, como a de hoje, imitaria os adultos com quem vivia. As armas de defesa e
ataque e os instrumentos de trabalho seriam os modelos dos seus primeiros brinquedos. As meninas
teriam os seus irmãos mais novos como modelos dos seus bonecos.” (Rodrigues; 1983:9)
Assim as crianças aprendiam os diferentes papéis que mais tarde viriam a representar na
comunidade. As meninas imitam as mães e as irmãs mais velhas, brincam às casinhas e fazem
vestidinhos para as suas bonecas. Os meninos aprendem a ser homens e brincam com carrinhos de
bois, como podemos verificar através do testemunho dos nossos informantes. O processo de
socialização é tão subtil que ainda hoje, num mundo completamente diferente, existe algum
preconceito em oferecer uma boneca a um rapaz.
A grande diferenciação sexual do trabalho característica das sociedades tradicionais está bem
espelhada no tipo de brinquedos utilizados pelos rapazes e pelas raparigas, por isso a Sãozinha
brincava com bonecas e o. Joãozinho brincava com carrinhos.
“No período infantil, a imitação é o aspecto da enculturação que mais surge como determinante. Seria
errado, por outro lado, pensar que as imitações cessam com a idade infantil; pelo contrário,
continuam toda a vida e prosseguem com o processo enculturacional.” (Bernardi; 1974:94)
“Seria, pois, errado pensar que na idade infantil a imitação actua só passivamente; desde os
primeiros anos, com um crescendo contínuo, afirma-se na criança e no homem a sua individualidade,
ou seja, a capacidade de interpretar de maneira autónoma e pessoal aquilo que vê e que lhe é
apresentado.” (Idem)
Através dos brinquedos e dos jogos, que muitas vezes andam intimamente associados, as crianças
vivem as “regras do jogo” e, tal como se de adultos se tratassem, vivem-nas com muita seriedade.
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Podemos verificar isso mesmo através das palavras de Ana Maria Sequeira no que respeita à
simbologia do jogo.
“Jogo simbólico é uma acção lúdica representativa de uma acção séria (brincar às casinhas, às
professoras, às mães e aos filhos) que decorre, na maioria dos casos da imitação do adulto.
O jogo do stop ou das nações (infantil) como no reca (jovens e adultos), para dar apenas dois
exemplos o símbolo está presente quer no material utilizado, quer na acção desenvolvida.
No jogo das nações, as casas desenhadas no chão representam nações e a linguagem imita uma
declaração de guerra.
No jogo da reca, a pinha ou bola com que se joga é a reca e o porqueiro, ao conduzi-la para o celeiro,
não faz mais do que representar uma acção real.
O jogo do fito, ou malha, talvez um dos mais populares em Portugal tem origem nas pedras com que
no trabalho se tenta acertar nalgum objecto.
Os materiais do jogo transformam-se quando o jogo se inicia: uma curta vara de ferro ou de tubo
passa a ser um pino ou fito e um pedaço de ferro achatado e redondo é a malha. Alterou-se-lhes a
função: a utilidade prática deu lugar à propiciação do prazer. (...)
Os jogos tradicionais utilizam o simbolismo de diversas formas, seja no aspecto da prática do próprio
jogo, seja na linguagem ou lengalenga que o acompanha, seja no gesto do participante, seja no
próprio objecto do jogo. (...)
Nesta medida, o jogo tradicional, por encerrar em si mesmo os símbolos e os sinais dos Homens que
o praticam, são sem dúvida uma forma expressiva do Homem comunicar.” (1997:13;14)
Nos brinquedos e nos jogos tradicionais está um mundo de conhecimento. Tudo o que foi dito nos
ajuda a compreender o papel dos mesmos, desde a sua origem à sua simbologia.
Em seguida iremos analisar especificamente a função social que os jogos e brinquedos tradicionais
tinham na primeira metade do século XX em Alcanena e que, apesar de se ter desvanecido ao longo
dos tempos, persistiu até há bem pouco tempo.
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A Função Social dos Brinquedos e Jogos Tradicionais no Concelho de
Alcanena
Os testemunhos dos nossos informantes são deveras elucidativos da forma como se brincava na
primeira metade do século XX e a que chamámos brincadeiras de outros tempos.
E porquê “brincadeiras de outros tempos”?
O factor “tempo” tem alguma influência nesta nossa análise?
Inevitavelmente! E não seremos apenas nós a ter consciência desse facto. Os nossos informantes,
pela própria lei da vida, dão-nos conta do passar do tempo e das mudanças que testemunharam.
Senão vejamos:
Expressões como na minha infância, no meu tempo, antigamente, quando eu era pequeno, nessa
altura, quando eu era criança, demonstram bem como o tempo passou, e como passou bem
depressa para estas pessoas, pois o período de brincadeiras infantis era bem curto para as crianças
de “outros tempos”.
Se relermos a primeira parte deste artigo, quase que sentimos o sorriso dos nossos informantes
quando trazem à memória as suas brincadeiras de infância...
Mais uma vez, o “tempo”. Pouco tempo.
Pouco tempo para brincar, pois começava-se a trabalhar com tenra idade. E, por isso, as próprias
brincadeiras, os brinquedos e os jogos, faziam parte do esquema informal de aprendizagem. Era
preciso aprender a viver e daí o ditado popular: de pequenino é que se torce o pepino!
- A partir do momento em que saí da escola já não tinha tempo para brincar.
- Pois, trabalhava-se mais cedo e os pais todos tinham que lhe dar a fazer.
A idade das brincadeiras inocentes tinha chegado ao fim! Era preciso ir guardar umas vacas, levar o
almoço ao pai, apanhar o rabisco ou lenha. As brincadeiras têm que ter uma utilidade, é preciso
aprender as regras dos adultos, pois o tempo corre.
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Aprende-se brincando, aprende-se jogando, aprende-se imitando os mais velhos. Aprende-se a ser
homem e chefe de família e os meninos praticam jogos de destreza e competição e brincam com
carros de bois e com instrumentos de trabalho; aprende-se a ser mulher e mãe e a governar uma
casa. Daí as bonecas e as suas roupinhas.
Começa a ser tempo!
- A irmã tinha 12 anos a mais do que eu e já era uma mulherzinha para fazer outras
actividades em casa para ajudar a mãe.
E das diferenças que o tempo acarretou, também temos notícia:
- não tinha dinheiro para ter essas bolas boas como há agora.
- Hoje um miúdo é mais rico num dia do que a gente era durante toda a vida. Não havia
brinquedos e jogos como há hoje.
- Naquela altura era diferente de agora, porque os divertimentos desse tempo das aulas na
escola era brincarmos uns com os outros.
Diferenças na quantidade, diferenças na diversidade.
De acordo com os testemunhos dos nossos informantes não existiam muitos brinquedos, não só
porque não existia a quantidade e diversidade que hoje existe, mas também porque o dinheiro não
abundava. Ter uma boneca de papelão já era quase um luxo, pois a maioria das crianças
consumiam-se perante as tentações irresistíveis que apareciam nas feiras.
Na Santana, feira anual de Minde, os petizes esbugalhavam os olhos perante as carrocinhas de
lata, bonecas de papelão, brinquedos de madeira, sem esquecer as vistosas e tentadoras bolas
de serradura. (Bento; 1994:190)
O que acontecia usualmente era o aproveitamento dos materiais existentes, desde o caco de barro,
aos botões, desde os carrinhos de linhas aos trapos. Tudo servia para criar um novo brinquedo, não
tivessem as crianças um mundo imaginário tão rico.
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- Fazíamos coisas imaginárias mas nunca mais era aquilo que é hoje. Hoje há aquelas coisas
plásticas que os cachopos fartam-se de brincar e dantes era um carrinho de madeira ou uma
coisita qualquer...
Os brinquedos era feitos pelas próprias crianças e quem tinha jeito, tinha, quem não tinha, paciência,
a não ser que o poder de compra dos pais permitisse esbanjar um pouco, ou podia ser que “um tio”
enviasse uma prenda pelo Natal.
- Fazia os meus brinquedos. Os meus brinquedos eram uma roda de cortiça, cortiça porque a
gente tinha cortiça, depois punha-lhe um eixo com uma cana.
- O brinquedos, antigamente, fazíamo-los nós.
- Havia quem tivesse jeito para fazer carrinhos de madeira, mas eu tinha pouca habilidade.
- Bonecos só tive um. Um bonequinho que um primo meu que morava em Lisboa, e costumava
mandar umas coisinhas no Natal para nós para comer, me mandou.
Rapazes para um lado, raparigas para o outro!
Em idade escolar e em escolas mistas poderia haver a possibilidade de brincadeiras em conjunto,
vemos isso na maior parte dos jogos infantis. “Não havia maldade”, como diriam uns. A
confraternização entre sexos não era homogénea, fosse pelas diferentes condições físicas das
escolas existentes nas diferentes freguesias, fosse pelo maior ou menor conservadorismo dos pais. O
que é um facto é que havia muito mais restrições do que aquelas que existem hoje.
- Os rapazes e as raparigas brincavam juntos, não havia maldade.
- Na minha infância, a mãe não deixava sair para ir brincar com os outros miúdos, por isso
brincava em casa no quintal.
- Jogávamos no recreio tanto com rapazes como com raparigas.
- Naquela época, lá perto de mim, todos brincávamos mais ou menos desta maneira. Mas
havia aqueles matulões que já se juntavam uns com os outros ao pé de uma capelinha que
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ainda hoje lá existe e eu espreitava pelo buraco do portão, com muita vontade de ir para o pé
deles. Mas não, para a rua não se podia ir.
- Não, os rapazes e as raparigas não brincavam juntos, nem na escola nem na rua. Nunca
tinham comunicações uns com os outros. Lembro-me uma vez que meteram lá umas
raparigas na escola dos rapazes, mas quando era para brincar elas estavam todas apartadas,
nunca se misturavam. Não, não, não se misturavam e ai daquele que tocasse em qualquer
coisa. Não havia possibilidade.
- Os rapazes brincavam com as raparigas. À porta da escola fazia-se um bailarico todos os
dias. As raparigas dançavam com os rapazes e aí é que eu aprendi a dançar. Aqui na
Louriceira não havia escola dividida. Era só uma escola, que não é aquela, é uma casa que
está ali em cima, e os rapazes estavam junto com as raparigas.
- Nesta freguesia não havia condições para haver escola dividida. A escola nova foi feita em
1945 ou 46. Nessa altura já era dividido.
- Os rapazes e as raparigas não brincavam muito juntos. Não muito. Antigamente,
normalmente os pais não consentiam que elas se juntassem com rapazes a brincar. Não
senhora!
- As raparigas brincavam para um lado e os rapazes para o outro. Agora é que é tudo
misturado. Era rapazes com rapazes e raparigas com raparigas. Mas às vezes também
brincávamos com raparigas.
No entanto, quando se entra na fase da puberdade, o controle começa a acentuar-se e a segregação
é maior. As brincadeiras mudam, o brinquedo deixa de ter tanta importância e os jogos diferenciamse.
Nestas idades já não existem jogos mistos, como pode ser verificado no capítulo anterior. Agora
reinam os bailaricos e as cantorias. Os jovens adultos do sexo masculino estão aptos a competirem
com os adultos.
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- No meu tempo, a gente, raparigas, juntávamo-nos todas. Havia um rancho de raparigas que
era qualquer coisa! Juntávamo-nos todas na fábrica. Só na minha casa éramos quatro, na
casa da vizinha eram cinco. Juntávamo-nos todas e íamos ao alecrim, e fazíamos uma
fogueira quando chegava ao mês do S. João. Todas as semanas havia fogueiras lá nos
Estreitos, todas as semanas havia bailarico. Não tínhamos mais nada, por isso era cantar e
bailar ali na rua. Cantávamos, bailávamos, saltávamos à fogueira e jogávamos ao “raminho
tranchado”.
- Ali na escola não havia condições para esse convívio. Só mais tarde quando a gente
começasse a tomar rumo de vida é que... ali não, na escola não. Mais tarde nos bailaricos ou
só se fosse com vizinhas ou com pessoas assim do conhecimento, de resto não.
- Agora quando tinha 20 anos já gostava de brincar era com gajos... queria lá saber dos
brinquedos.
A rua, o recreio da escola, o largo ou o adro da igreja eram espaços de eleição para as brincadeiras
de outros tempos. Os jogos de “azar” eram só para homens, sendo muitas vezes a sua perdição!
Quando se trabalhava de sol a sol, não havia muito espaço para o divertimento. Os domingos e os
dias de festa eram, sem dúvida, bem apetecíveis.
No convívio entre homens, muitas vezes, o prémio dos jogos passava por um copo de vinho e, quem
não quereria ganhar o galo para comer com a família num dia festivo?
Não podemos nunca esquecer o modo de vida de outros tempos. Não podemos dissociar os
brinquedos e os jogos tradicionais no concelho de Alcanena do contexto global do Concelho, pois
estes são parte integrante da cultura das suas gentes.
E é a própria viagem no tempo que nos permite compreender a função social que os brinquedos e
jogos tradicionais tiveram noutros tempos em Alcanena. Tempos esses em que a aprendizagem
informal tinha um papel mais relevante do que tem hoje em dia e onde o processo de socialização
estava mais dependente da família, dos amigos e da própria comunidade.
No mundo de hoje, a educação formal é muito mais efectiva, não só porque se tornou democrática,
mas também porque as crianças estão muito mais tempo afastadas dos pais devido aos
condicionalismos da vida moderna.
Agora o ensino é obrigatório, a acesso à educação básica está garantido pelo Estado, as condições
de vida da generalidade da população melhoraram. Hoje as crianças não brincam tanto aos adultos
como noutros tempos, hoje as crianças divertem-se.
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Mas será que se perdeu o valor social do brinquedo e do jogo enquanto elementos preparativos de
integração na comunidade e de coesão social?
Conclusão
Partimos dos testemunhos dos nossos informantes quanto às “brincadeiras de outros tempos” no
concelho de Alcanena, testemunhos esses que nos transportam para o tempo de criação destes
homens e destas mulheres e que se situam na primeira metade do século XX.
Os seus pais e os seus avós não teriam brincado de forma muito diferente. E, se fosse nosso intuito,
não seria muito difícil encontrar na geração nascida em 70 memórias ainda bem vivas de algumas
destas brincadeiras.
Efectivamente, o concelho de Alcanena, até há poucas décadas atrás, podia ser caracterizado como
uma comunidade tradicional, baseada numa economia de auto-subsistência e com um forte cunho de
ruralidade.
Nas sociedades de carácter tradicional existe uma grande ligação ao meio ambiente, para não
dizermos dependência, o que sem dúvida se reflecte no modo de vida dos seus habitantes, nos seus
usos e nos seus costumes.
Assim é, que os brinquedos e os jogos tradicionais recorrem essencialmente aos recursos e materiais
fornecidos pelo meio envolvente e as ideias que estão na base da sua criação estão igualmente
condicionadas pelo maior ou menor acesso à informação.
Explorámos no segundo capítulo a origem e expansão dos brinquedos e dos jogos, alguns deles
muito utilizados em Alcanena no princípio do século XX, o que nos permitiu verificar a universalidade
dos mesmos.
Dizia Camões que “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, e assim é, porque a “aldeia
global” em que hoje vivemos revolucionou, igualmente, o mundo da fantasia.
Com base nos testemunhos dos nossos informadores, pudemos verificar a relação existente entre os
brinquedos e jogos tradicionais e o poder económico diferenciado.
A sociedade tradicional está essencialmente vocacionada para a satisfação das necessidades
básicas e o pouco excedente monetário que algumas famílias pudessem amealhar não seria
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desperdiçado facilmente. Embora não houvesse muita oferta, obviamente que só alguns teriam poder
de compra para adquirir brinquedos. Os restantes teriam mesmo que ser criativos!
Tanto a divisão sexual do trabalho como o controlo apertado por parte da comunidade são elementos
que caracterizam as sociedades tradicionais, daí que o processo de socialização das crianças tenha
tido um papel deveras relevante em termos de integração e coesão sociais.
Os brinquedos e os jogos utilizados em Alcanena na primeira metade do século XX, bem como o tipo
de brincadeiras a que os nossos informadores estavam habituados na sua “criação” são bem
elucidativos deste processo não formal de aprendizagem dos valores e das normas de conduta da
comunidade em que estavam inseridos.
Em nossa opinião, este valor social que os brinquedos e jogos um dia preencheram não se perdeu
nos tempos de hoje. Os brinquedos não são os mesmos hoje em dia no concelho de Alcanena. As
crianças já não jogam no adro da igreja em dia de festa como jogavam antigamente, mas brincam no
átrio da escola, desta feita com a “Mariazinha” e com o “Manelito” e as instituições encarregues do
ensino formal têm cada vez mais consciência da preservação do património cultural, onde estão
incluídos os brinquedos e jogos tradicionais mas, apesar das brincadeiras terem acompanhado os
tempos, o valor social integrador e enculturador mantém-se. O que sofreu alterações e mudanças foi
a própria cultura, que é dinâmica por natureza.
A nosso ver, a função social que brinquedos e os jogos tinham nas sociedades ditas tradicionais,
enquanto processo de socialização mantém-se. Antigamente em Alcanena brincava-se com o
carrinho de bois e com o arado, o que cumpria a sua função; agora, brinca-se com um computador, e
continua a cumprir-se a função.
Obviamente que temos consciência dos perigos do mundo da informação, mas esses perigos são a
outra face de um mundo mais democrático. O grande perigo tem a ver com o uso irresponsável da
liberdade e parece-nos que será neste ponto que os novos agentes socializadores terão que investir.
A título conclusivo, resta-nos salientar que, com base em testemunhos de “outros tempos” do
concelho de Alcanena podemos hoje preservar memórias.
Passámos algumas das “brincadeiras de outros tempos” para o registo em papel, por forma a que as
gerações vindouras tenham acesso a esses testemunhos.
Quem sabe o que as crianças que hoje brincam em Alcanena poderão fazer da memória dos seus
antepassados?
Embora não tenhamos a pretensão de fazer futurismo, permita-nos o leitor, pelo menos, uma
pequena brincadeira: será que o menino Zézinho, barra em informática e jogos virtuais, ainda tão
novinho, quando crescer, não irá pegar neste humilde contributo e propor a um futuro executivo
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municipal daqui por dez ou quinze anos construir uma colectânea de jogos tradicionais virtuais em
formato digital. Quem sabe os meninos do futuro não quererão jogar ao pião a 3D?!
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Notas
i Responsável pela metodologia utilizada e pelo trabalho de campo.
ii Apenas participação directa na introdução.
iii Em Portugal a palavra “rapariga” não tem a conotação pejorativa que possui no Brasil. Entenda-se pois este termo como
aquele que o Brasil geralmente define como “moça”.
iv As brincadeiras e os brinquedos dos rapazes sempre foram tipificados sexualmente de maneira muito Mais rígida, quando
comparados com as raparigas. Nomeadamente a partir de determinada idade – geralmente entrada para a escola -, meninos a
brincarem em brincadeiras femininas ou com brinquedos femininos era socialmente incomodativo e por conseguinte
recriminado. No caso feminino, as regras eram um pouco mais flexíveis, na medida em que em certos casos específicos, estas
poderiam brincar ou jogar com os brinquedos masculinos.

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