A importância das atividades Lúdicas no Karatê
Autor: Ivo Pedon
Educação-Física UniToledo
Orientador: Ataliba Mendonça Junior.
Como atleta a mais de 16 dezesseis anos, formado faixa preta, na área da arte marcial, Karatê, observei que o processo de ensino-aprendizagem tradicional para os dias de hoje tornou-se um fator de desmotivação e uma barreira para a continuidade dos alunos iniciantes. Pretendo apresentar uma proposta que torne mais flexível e prazeroso a iniciação à modalidade, proporcionando aos alunos a possibilidade de desfrutar da arte marcial “Karatê”, sem serem pressionados a seguirem o padrão da arte marcial ao “pé da letra”, manter a ordem no treinamento com conversas e priorizar a brincadeira como fonte de aprendizado tanto para o aquecimento como para o alongamento, e também nos golpes que forem realizados. O aprendizado vai ser proporcionado por meio de brincadeiras, como um velho ditado diz “Quem aprende brincando nunca esquece”.
Vale destacar que não pretendo mudar a estrutura e a filosofia do karatê, mas adaptá-lo para que o aprendizado seja eficiente e que a criança interaja com o meio, respeitando a cultura tradicional japonesa, aprendendo a ter autocontrole, tanto da ansiedade como do emocional, equilibrando assim seu corpo e sua mente, e liberando seu espírito criativo.
O fato de propor a inclusão de brincadeiras na aprendizagem do karatê nos remete a necessidade de refletir sobre o brincar, sua importância e a sua vinculação com as atividades lúdicas tão comentadas atualmente nos meios acadêmicos.
A palavra lúdico vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e é relativa também à conduta daquele que joga, que brinca e que se diverte. Por sua vez, a função educativa do jogo oportuniza a aprendizagem do indivíduo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo. (Santos, 2002:9).
Segundo a autora podemos considerar o brincar, a brincadeira e o divertimento como algo sério, muito além do que é considerado no “senso comum”, atividade sem importância e descartável. Notamos que o desenvolvimento da criança está pautado em sua relação com meio em que vive e quanto maior for à possibilidade de se relacionar com o meio através de atividades lúdicas, maior será o seu desenvolvimento.
Entretanto a criança precisa vivenciar as manifestações características de sua faixa etária, respeitando cada etapa de sua idade, assim, aprendendo de acordo com o seu desenvolvimento, sem apressá-la precocemente, para que no futuro não se torne um adulto problemático, sem convivência ou participação social.
Santos (2002) nos apresenta outro aspecto importante, a ludicidade além de uma necessidade do ser humano em todas as idades, contribui também para os desenvolvimentos pessoais, sociais e culturais, colaborando para o aumento da criatividade e facilitando nos processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.
“Brincar é importante”, “deixe a criança brincar”, “o jogo é uma necessidade do ser humano”, etc. Esses “conselhos” são lidos, ouvidos e dados a todos aqueles que lidam com crianças: pais, professores, recreacionistas e outros. Há uma intuição generalizada de que o jogo é importante para a criança. Por quê? As respostas são variadas: é um momento de divertimento; a criança pode se expressar através do jogo; descarregar energias e agressividade; interagir com outras crianças, se desenvolver, aprender... (Fridmanm,1996:14).
A idéia de utilizar a atividade lúdica no processo de aprendizagem é usar o raciocínio ou transformar um movimento específico em uma brincadeira, fazendo assim com que o aluno se desenvolva. Não somente a criança, mas também o adulto que volta a brincar não se torna criança novamente, apenas convive, revive e resgata com prazer à alegria do brincar, daí a importância do resgate desta ludicidade, a fim de que se possa transpor a experiência para o campo de educação.
Interagindo com a brincadeira a criança vai se desenvolvendo facilmente, mais naturalmente do que com os movimentos dirigidos, sendo que esses movimentos ela o faz por obrigação. Contrariamente no lúdico, ela interage, cria e constrói por si mesma, desenvolvendo-se assim como um todo, de forma prazerosa e não obrigatória. Desta forma, temos que deixar a criança brincar, vivenciar todas as etapas do desenvolvimento.
Segundo Fridmanm (1996), à medida que a criança cresce, podemos observar que ela vai desenvolvendo habilidades cognitivas, corporais, emocionais e sociais, que vão constituindo-se como uma ponte entre ações puramente físicas e concretas, para ações mais abstratas. A ação e reação da criança durante o jogo é ingrediente básico para que a brincadeira aconteça. A passividade (física e mental) não vai ao encontro da idéia de jogo nem de desenvolvimento.
Desta forma, a criança vai construindo seu mundo, fomentando suas idéias e criando realidades do imaginário, para uma realidade de acordo com o seu desenvolvimento, e isto só acontece quando ela participa da brincadeira, do jogo.
A criança tem necessidade de brincar, e o aspecto mais importante é que uma atividade tem que ser prazerosa, trazendo felicidade, sendo assim, nem um outro motivo necessitaria ser acrescentado para afirmar a sua importância.
Se os benefícios das atividades lúdicas são tão aparentes, por que o karatê não se apropria desta vantagem? A questão está na tradição desta modalidade esportiva, que traz consigo traços de uma cultura milenar. A história do Karatê começa em uma ilha chamada Okinawa que fica no centro de um arquipélago denominado pelos chineses de Ryukyu, que se estende desde o extremo sul do Japão até a ilha de Taiwan. Okinawa com seus 1.500 Km² ocupa sozinha mais da metade da superfície do Ryukyu. “Oki”: oceano ou grande, e “nawa”: cadeia, corrente ou corda – em japonês –, essa ilha tem uma centena de quilômetros de comprimento para uma largura de 30 a 34 Km e seu aspecto é de uma corda nodosa e flutuante.
A vida em Okinawa sempre foi rude. Para se adaptar ao meio naturalmente hostil (a ilha era constantemente castigada por tufões destruidores), o habitante de Okinawa precisou forjar a vontade, engenhosidade e a tenacidade – qualidades que teria que ter em dobro em face de sucessivos invasores que pretendiam subjugá-la a todo custo. O instinto de sobrevivência faria surgir recursos de resistência, técnicas de combates a mãos nuas (ancestrais do Karatê) ou com armas (ancestrais do Kobudô).
De todas as etnias sucessivas que vieram a se fundir em Okinawa o elemento puramente japonês foi provavelmente o último a ser introduzido a partir do século XIV – época em que a casta militar nipônica pretendia subjugar a ilha. A situação geográfica de Okinawa fez com que o local sofresse, em todas as épocas, a influência de uma grande variedade de culturas, a ilha era também rota, de encontro do comércio chinês, japonês, filipino ou malásio, ponto de escala e objeto de cobiça dos navios piratas vindos de todos os horizontes. Até o século XIII pouco se sabe sobre a história de Okinawa. A ilha encontrava-se retalhada por clãs rivais que se enfrentavam continuamente. A figura de Shuten (ou Soton) emerge como provável primeiro rei de Okinawa e que constituiu um sistema de defesa fortificado do qual ainda restam vestígios. Esse fato histórico marca o início da ascensão de uma classe guerreira nativa que iria se firmando e individualizando.
Nessa época foi promulgado um decreto que proibia o uso ou porte de qualquer tipo de arma, o que certamente deu impulso para a evolução das artes marciais de Okinawa.
Mesmo com a proibição da prática de qualquer atividade marcial, Okinawa continuou a praticar em segredo o seu sistema de defesa pessoal. O século XVIII contempla o nascimento do To-De ou Okinawa-Tê, ancestral do karatê. Sem dúvida o dominante das técnicas de combate de mãos nuas eram chineses do Shaolim – incluindo seus mais variados aspectos, como os estilos dos animais, a ênfase à respiração e a eficácia dos golpes desferidos nos pontos vitais do corpo, em suma as mesmas diretrizes do Kung Fu. A proibição despertou o interesse pelas técnicas de combate e generalizou a prática até então restrita a uma minoria. Foi à época de treinamentos enfurecidos em lugares secretos, geralmente à noite, longe dos centros habitados, nos rochedos, a beira-mar, entre discípulos de confiança. Este ambiente continuou até o final do século XIX e explica a falta de documentos escritos. O ensino seletivo, a transmissão oral, assim como representações das técnicas letais, zelosamente ocultas em movimentos aparentemente inofensivos (a mesma idéia fundamental que se encontra nos Katas – apresentação de golpes).
Tecnicamente sabe-se pouco sobre esse período obscuro do karatê, exceto que pés e mãos (pontas dos dedos, antebraço, cotovelos e joelhos) tornavam-se armas eficientes e rápidas, capazes de substituírem as lâminas banidas. No século XVIII houve a formação de três estilos básicos de Okinawa-Tê: Naha-Tê, Shuri-Tê e Tomari-Tê – dos nomes das cidades nas quais eram praticados. Também pouco se pode afirmar que já eram ensaiados os primeiros Katas. Muitos movimentos e atitudes do Okinawa-Tê foram também camuflados nas danças tradicionais a fim de despistar a desconfiança das autoridades. Porém, pouco a pouco, homens mais dotados surgiram, estilos se diversificaram e líderes que vieram a tornar-se mestres, codificaram seu estilo deixando cada vez mais lugar para a improvisação. No século XIX foi à época da eclosão do Karatê de Okinawa. Logo no início desse século, ou talvez no final do século XVIII, três grandes estilos vieram à tona. Ao redor de Naha formou-se o Naha-Tê. Suas técnicas lembram o Kung Fu do sul da China, com ênfase na utilização dos membros superiores (técnicas de punho curtas, circulares e destruidoras), busca pelo corpo a corpo nas posições estáticas, chutes baixos e nunca com saltos. É o estilo duro que produzirá o Shorei-Ryu e o Goju-Ryu e que distingue igualmente pela busca respiratória “ibuki” – uma forma de chin-kun chinês (busca pela mobilização da energia vital interna). Os katas são variados e complexos: seisan, seinchin, saifa, shisochin, sanchin, sanseru, suparinpei, etc.
Ao redor de Shuri desenvolveu-se o Shuri-Tê. Suas técnicas lembram as técnicas do norte da China, é o estilo “externo” no qual se trabalham muitos membros inferiores (deslocamentos rápidos, esquivas, chutes altos, saltos e até mesmo movimentos acrobáticos). É o estilo mais suave que dará o surgimento ao Shorin-Ryu, Shito-Ryu, Shotokan e Wado-Ryu. Ao redor de Tomari formou-se o Tomari-Tê, não muito diferente do Shuri-Tê com a mesma ênfase na velocidade e suavidade com bloqueios, sobretudo a nível jodan, assim como a predileção maior por chaves e projeções. (Disponível em: <http://portalkarate.pandela.net/karate.htm>).
De acordo com o texto, o Karatê é uma arte marcial tradicional de país a país, uma cultura oriental, criada há séculos. Surgiu no Japão e com o Karatê surgiu a cultura tradicional Japonesa.
Esta cultura é rígida e muito autoritária, onde o praticante não tem espaço para práticas do esporte livremente. Suas regras são cumpridas como apresenta o codificador do Karatê no Brasil o mestre Funacoshi “filósofo”.
Seguimos a risca o que ele nos manda e sempre usamos o Karatê como arte marcial para nos reeducarmos, aprendendo sua cultura tradicional Japonesa. As brincadeiras são restritas, pois não se pode desobedecer às regras ou sair do padrão estabelecido.
Se chegarmos a utilizar a imaginação para desenvolver atividades diferenciadas podemos estar quebrando antigas escrituras do nosso mestre codificador. Anos e anos se passam e quase nada muda, seguimos os mesmos mandamentos, as mesmas normas e os costumes, o mesmo pensamento e o mesmo espírito, na qual a maior vitória de um lutador de karatê é ter uma harmonia de corpo, mente e espírito.
Amadurecemos precocemente, pois somos cobrados diariamente. Quem pratica Karatê tem uma arma guardada dentro de si, é só resgatar o que aprendeu para utilizar o que foi ensinado. Um lutador tem metas a serem cumpridas, obstáculos a serem superados, cada luta, cada vitória um degrau a ser vencido.
Um atleta para se destacar tem que dedicar-se diariamente, ter boa conduta e ser um exemplo de aluno, sabendo silenciar e só falar quando o professor mandar, fazer todos os tipos de exercícios obstinados para aquele treino, e mesmo se o exercício apresentar falhas, há trabalhos duros em cima de defeitos de base, socos e chutes. O atleta passa por um processo de adaptação para diminuir seus erros ou conviver com eles, adequando este erro em busca de constante aperfeiçoamento.
Para a criança, esse aspecto de adaptação torna-se uma carga muito pesada, pois a ela entra em um mundo no qual a filosofia e a cultura são muito severas, e as atividades lúdicas, como o brincar e interagir com o meio, são deixados para traz.
Muitos autores apresentam tal situação como furto do lúdico:
O principal motivo para que ocorra o furto do lúdico da infância esteja baseado na crença de que a criança, considerada como “adulto em miniatura”, tenha como finalidade única da existência a preparação para o futuro. Ora, o mundo do brinquedo, em essência, não se prende a preparação sistemática para o futuro, mas a vivencia do presente, do agora. (Marcellino, 2002:37).
O furto do lúdico mostra-se presente nos dias atuais e somos nós professores que temos que modificar tal situação, não esquecendo que devemos adequar constantemente atividades para fazer com que a criança brinque e aprenda, construindo seu conhecimento em degraus firmes e sólidos, não pulando nenhuma etapa, para que no futuro a criança torne-se um adulto comunicativo sem problemas acarretado pela sua infância.
Como podemos observar este processo que apresentamos de utilização das atividades lúdicas no karatê, exige um novo perfil do professor, que se preocupe, participe e envolva-se no aprendizado de seus alunos.
Santos (2002) destaca que educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho que o professor considere o mais correto, mas ajudar a pessoa na tomada de consciência de si mesma, dos outros e da sociedade. É aceitar-se e saber aceitar os outros, oferecendo várias ferramentas para que a pessoa possa escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as possíveis circunstâncias adversas que irão encontrar. Educar é preparar para a vida.
O professor deve trabalhar buscando meios mais adequados para que a criança aprenda veículos de comunicação não repetitivos, mais prazerosos para que ela possa se desenvolver com o aprendizado adquirido, como uma forma de busca do conhecimento.
De acordo com Santos (2002) a formação lúdica deve possibilitar ao futuro educador conhecer-se como pessoa, saber de suas possibilidades e limitações, desbloquear suas resistências e ter visão clara sobre a importância do jogo e do brinquedo para a vida da criança, do jovem e do adulto.
A brincadeira transforma a criança, e o professor tem que a deixar brincar, para que assim ela possa atribuir novas adequações e se desenvolver nestas novas brincadeiras. Ele pode utilizar recursos didáticos para ensinar a criança e ajudá-la a desenvolver-se de forma mais prazerosa e natural, sem a cobrança de um aprendizado mecânico.
Fridmanm (1996) nos fala dos exercícios de pensamento, jogos de exercícios simples. Fazer perguntas pelo simples prazer de perguntar: “por quê?”; combinações sem finalidade; relato sem coerência, desorganizado, pelo simples prazer de combinar palavras e conceitos. Combinações com finalidade; inventar pelo prazer e construir.
“Essas são combinações instáveis: a fabulação converte-se facilmente em imaginação simbólica, por já constituir um ato de pensamento” (Fridmanm, 1996). Fazer com que a criança reflita na brincadeira é uma das maneiras dela aprender o conteúdo que esta sendo dado, ou antes de iniciar a brincadeira, falar o porque desta, qual é a finalidade de desenvolvê-la, sempre perguntado o porque disso. Deste modo, ela irá absorver facilmente o conhecimento, com uma dinâmica de um jogo.
Como proposta deste trabalho desenvolvemos uma pesquisa de campo, para verificar se é possível o desenvolvimento do karatê por meio de atividades lúdicas. Passaremos a relatar algumas experiências obtidas.
Vamos começar trabalhando com uma interação de grupo.
Em um treino tradicional faríamos uma corrida individual com trotes leves e fortes para o aquecimento obedecendo ao comando do professor.
Desta maneira transformamos esta atividade em brincadeira, no lugar de correr individualmente, vamos passar a brincar de “garrafa – envenenada” em que participará um pegador e este terá que encostar em seu companheiro de treino, assim quando pego ele ficará de pernas abertas e se o outro amigo passar por de baixo de sua perna ele volta para a brincadeira correndo do pegador, se o pegador encostar em todos sem um salvar o outro, ele deixará de ser o pegador, se ele não pegar mais ninguém colocamos mais pegadores até que todos seja pegos. Nessa brincadeira o pegador tem que ser muito ágil e tem que ter muita rapidez na corrida, e uma excelente coordenação motora. Essa brincadeira ajuda a promover a união do grupo, pois eles dependem um do outro para se salvar, e quando pego cria-se uma interação entre os atletas.
Em seguida no treino tradicional trabalharíamos muita esquiva para promover a agilidade na saída do golpe lateral. Geralmente o professor coloca cones no chão e temos que desviar em movimentos de zig-zag trabalhando assim a agilidade do atleta na saída do golpe pela lateral, sendo a esquiva muito importante para não levar um golpe de soco ou chute.
Adaptamos a esquiva no “rela-ajuda”, em que os alunos têm que pegar o outro companheiro e este tem que esquivar do pegador para não deixá-lo encostar, pois cada vez que o pegador encostar em outro companheiro aumenta o número de pegadores, cobrando assim mais empenho e agilidade dos alunos na esquiva.Também pode-se trabalhar a esquiva com bolas, no qual um joga a bola e outra criança esquiva lateralmente da bola sem usar as mãos assim esquivando com o corpo. Nesse treinamento as crianças trabalham a esquiva e a interação do grupo, pois chegando em determinada parte da brincadeira, todos precisam do outro para acabar de pegar os companheiros.
Depois de trabalhar a esquiva vamos trabalhar a resistência. No karatê tradicional corremos para adquirir resistência respiratória, então os alunos correm de 7 a 10 voltas na quadra com uma velocidade de moderada para rápida, pois quando ele estiver lutando não vai sentir tanto cansaço, mas lutar do começo ao fim sem ter uma queda em seu desempenho.
A partir do trabalho sobre resistência adaptamos uma brincadeira chamada rela-senta, no qual terá um só pegador que correrá atrás dos seus companheiros em um espaço delimitado em que o pegador terá que encostar em todos os seus companheiros para que eles sejam pegos, e quando ele for encostando neles, estes vão sentando fora da área marcada para eles correr, sendo que cada vez mais diminuirá o número de participantes até que ele pegue todos seus amigos. Depois de todos serem pegos irá o outro amigo fazendo o mesmo que fez o primeiro sucessivamente até que todos participem.
Esse exercício trabalha o condicionamento físico do atleta, pois exige que ele dê o máximo para completar a brincadeira.
No karatê temos que treinar muita base, (posição em que o sujeito fica com as pernas afastadas e levemente flexionadas para manter o ponto de equilíbrio) então a criança fica nesta posição para o aperfeiçoamento de sua técnica, e acaba estressando a musculatura de sua perna facilmente. Então trabalhamos também a base como forma de brincadeira. Chamamos a brincadeira de pega-bola, na qual coloca-se a criança na base e ensina-se o movimento a ser feito, depois soltamos uma bola do outro lado da quadra e as crianças terão que chegar até a bola; a primeira criança que chegar até a bola jogará a bola do outro lado da quadra, facilitando que o último jogue a bola para o outro lado, lembrando que as crianças não poderão sair da base cogitada e estarão fazendo o mesmo exercício que no modo tradicional.
Verificamos que o desempenho da criança nesse exercício aumenta três vezes mais do que se ela fosse treinar da maneira normal. Desta forma, os alunos trabalham a base do karatê, lembrando também que temos vários tipos de bases e com esse tipo de exercício podem-se fazer todas as bases, basta apenas colocá-los na base escolhida ensinando o movimento e iniciar o exercício.
No karatê deve-se ter muita força nos membros inferiores para uma melhor execução do chute, fortalecendo a base para uma melhor execução do mergulho do soco, e se os membros inferiores não estiverem bem fortalecidos não haverá uma boa execução dos golpes combinando chute e soco. Desta maneira trabalhamos no karatê muito o agachamento com as mãos na cabeça, descendo até encostar as nádegas no chão e subindo até esticar o joelho, e assim o professor (chamado de sensei), vai contando para o atleta fazer.
Adaptamos o agachamento em uma brincadeira parecida com o jogo de vivo-morto. Quando se diz “vivo” os alunos ficam de pé com as mãos acima da cabeça e quando se diz “morto” eles agacham e colocam a mão no chão. Esse comando vai sendo atribuído, porém às vezes mudando a ordem do comando, saindo do seqüenciado e colocando variações para levá-los ao erro, fazendo com que eles mesmos se superem, assim eles estarão competindo consigo mesmo, tendo uma grande atenção do comando para não fazer a brincadeira errada. Também para trabalhar os membros inferiores pode-se passar uma brincadeira que chamamos de “sapinho”, em que a criança fica agachada e vai pulando como um sapo até um ponto determinado e volta na mesma posição.
Essa brincadeira trabalha a força dos membros inferiores e assimilação do comando de voz, fazendo com que a criança execute o exercício sem queixar-se de dor muscular.
No karatê trabalha-se bastante a coordenação motora, e para uma melhor execução dos golpes, executa-se muito o circuito motor dos movimentos, como: polichinelo com diversas variações, mãos para frente, cruzando a perna, combinados de mão e perna entre outros.
Ajustamos uma brincadeira chamada “faça o que eu faço”, só que esses movimentos devem que ser executados pulando corda, no qual duas pessoas batem a corda e uma pula fazendo o movimento pedido; pode-se para fazer diversas variações, como execução de golpes, pular com uma perna só, e assim por diante, lembrando que a criança estará executando o movimento pulando a corda. Esse exercício trabalha o reflexo de pular corda e a execução do movimento sugerido pelo professor.
Em seguida trabalhamos os membros superiores, no karatê tradicional trabalha-se o apoio de solo com algumas variações, como por exemplo, com as mãos fechadas para fortalecer o soco, mãos abertas para fortalecer os dedos, fazendo apoio de solo até o chão e pulsando o corpo para cima. Desta forma a criança ficará cada vez mais veloz na hora do impacto do soco.
Executamos várias brincadeiras para membros superiores e inferiores trabalhando os movimentos combinados para apoio de solo. Elaboramos uma brincadeira chamada de “grilinho”, colocando a criança em posição de apoio de solo e dando ordens para elas fazerem o exercício até um ponto de chegada. Assim, a criança tem que ir fazendo apoio de solo saltando para frente e realizando o mesmo que no apoio de solo tradicional, mas como brincadeira, fazendo uma competição para tentar superar-se e fazendo o exercício cada vez mais rápido.
Esse movimento ajuda na execução da explosão dos braços e na auto-superação, pois ela tem um ponto de chegada a conquistar.
Os movimentos combinados são muito importantes no karatê, pois nesta arte marcial utilizam-se vários golpes de pernas e braços, chamada de seqüência. É um movimento de extrema importância na luta, pois golpes seqüenciados dão maiores chances de acertar o adversário. Então ajustamos os movimentos combinados em várias brincadeiras, como no exemplo do “caranguejo agachado” só cruzando as pernas e colocando as mãos no chão, combinando as mãos e pernas juntas; pode-se fazer também um exercício que chamamos de “aranha”, pois a criança fica de costas no chão e faz movimentos combinados de pernas e braços movimentando-se para frente.
A defesa é essencial para melhorar o resultado na luta, pois dá menos chance para que o adversário faça o ponto, então no karatê tradicional o professor dá uma maior ênfase neste tipo de treinamento. Elaboramos uma brincadeira para trabalhar a defesa chamada “senhor da defesa”; cada golpe que o Senhor da defesa não consegue defender perde um ponto e cada golpe defendido ganha um ponto, fazendo assim uma disputa, vencendo aquele que tiver o maior número de pontos. Esses exercícios trabalham a assimilação e esforço na defesa, treinando com ênfase de se recuperar e superar o companheiro. Deste modo, a criança faz as defesas para ganhar cada vez mais pontos e se aperfeiçoa no exercício, brincando ao mesmo tempo.
Finalizando devemos treinar o específico para uma boa execução na luta, então treina-se muito o chute e o soco com variações acima da faixa e no rosto. Para aperfeiçoar os movimentos adaptamos uma brincadeira em que o alvo é a bola e quando treinamos o chute temos que acertar a bola com o movimento especificado pelo professor. O importante é que o atleta acerte na altura que a bola for jogada; o mesmo movimento será executado quando for utilizado o soco. Desta maneira treinaremos os movimentos específicos.
Completamos assim o treinamento específico em que ao invés dos alunos executarem os exercícios com estilo tradicional, eles aprendem brincando.
O treinamento geral do karatê passou por uma estruturação, fazendo do lúdico o seu principal veículo de aprendizagem, pois não pressionar e cobrar o aluno proporciona que o conhecimento seja adquirido espontaneamente, fazendo do aprendizado um momento de prazer.
Verificamos através de nossa experiência que as crianças que praticam karatê tradicional fazem os exercícios até um determinado tempo, pois se cansam rapidamente, enquanto as crianças que fazem o karatê adaptado no lúdico executam os exercícios três vezes a mais do que o do tradicional e raramente reclamam das atividades físicas, pois quando começam a brincar, esquecem-se de tudo e envolvem-se na brincadeira, fazendo o máximo para realizar os exercícios. A criança se empenha para realizá-los. Já no karatê tradicional isto quase não acontece, pois o excesso de cobrança acelera o aprendizado não respeitando os seus limites.
Ao término deste trabalho podemos concluir que o aprendizado do karatê por meio de atividades lúdicas foi muito bem absorvido pelos alunos em uma escola de 1ª primeira a 4ª quarta série. A freqüência às aulas, o envolvimento e a alegria proporcionada pelas atividades, levou a um baixo índice de evasão, muito diferente do que ocorre quando as aulas são dadas pelo método tradicional. Quantos aos resultados na performance destes alunos, observamos que não ocorreu resultado negativo, pois em 2006 foi realizado o campeonato regional de karatê, realizado na cidade de Cândido Mota interior de São Paulo, dois alunos foram convidados a participar e representar a cidade neste campeonato. Estes alunos selecionados foram campeões em sua categoria.
Obs: nº páginas, capa e contra capa.????
Referências Bibliográficas
CAMARGO, Luiz Octavio de Lima. Educação para o lazer. São Paulo: Moderna, 2002.
FRIEDMANM, Adriana. Brincar: crescer e aprender. O resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.
História do karatê. Disponível em: <http://portalkarate.pandela.net/karate.htm>. Acesso em: 29 de abril de 2006.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos infantis: o jogo, a criança e a educação. Petrópolis: Vozes, 2003 .
MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do lazer: uma introdução. 3.ed. Campinas: Autores Associados, 2002 .
MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e educação. 6.ed. Campinas: Papirus, 2000 .
SANTOS, Santa Marli Pires dos (Org.). O lúdico na formação do educador. 5.ed. PETROPOLIS: Vozes, 2002 .
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